Em julho de 1917, Nossa Senhora disse aos três videntes em Fátima que a Rússia espalharia seus erros pelo mundo.
A União Soviética passou 74 anos fazendo exatamente isso. Muitos esperavam que essa disseminação terminasse quando a URSS se dissolveu, no dia seguinte ao Natal de 1991. As primeiras indicações eram promissoras. Os antigos arquivos soviéticos foram abertos a estudiosos de todo o mundo. Muitos dos documentos ali contidos confirmaram as suspeitas de muitos anticomunistas.
Vladimir Putin parece ter a intenção de reviver esses erros. É claro que ele não os considera erros; para ele, trata-se de uma correção do registro histórico. Em uma entrevista, em março de 2018, perguntaram a Putin quais eventos da história de seu país ele gostaria de mudar. Sua resposta simples foi: “O colapso da União Soviética”. 58% dos russos entrevistados em 2017 concordaram. Só 26% não.
Vladimir Putin, em específico, está revivendo a adulação ao líder soviético Josef Stálin.
Desestalinização
A reputação de Stálin começou a diminuir antes mesmo que caísse a União Soviética — [mais especificamente] cerca de três anos após a morte do ditador, em 1953. Seu sucessor, Nikita Khrushchev, iniciou a “desestalinização” com um discurso na 20.ª Conferência do Partido Comunista, em fevereiro de 1956. Aquele não era o fim do comunismo, argumentou Khrushchev, mas somente o fim do mau uso que Stálin fez dele para criar em torno de si um “culto à personalidade”.
Esse culto foi muito além dos pôsteres onipresentes e das estátuas colossais que Stálin espalhou livremente por toda a URSS. Também incluía deportações em massa para a Sibéria e a tortura e execução de qualquer pessoa que Stálin considerasse uma ameaça, inclusive muitos membros dedicados do partido. Na época, havia rumores de que o próprio Nikita Khrushchev estava em uma lista de pessoas a ser expurgadas dessa forma, e que somente a morte de Stálin teria impedido isso de acontecer.
As estátuas de Stálin foram removidas, e seus pôsteres, cobertos de tinta. Stalingrado, local de uma das mais longas e importantes batalhas da Segunda Guerra Mundial, passou a chamar-se Volgogrado. O corpo de Stálin foi retirado do túmulo de Lênin e enterrado de novo em um simples túmulo com lápide. Sentindo que o vento havia mudado de direção, milhões de cidadãos soviéticos retiraram de suas casas fotos emolduradas do ditador.
A abertura dos arquivos soviéticos revelou um pouco da extensão do mal desencadeado por Stálin. Mesmo hoje, porém, as estimativas variam muito, de 3 a 60 milhões de mortes. A maioria das estimativas confiáveis coloca o número entre 20 e 30 milhões, superando os 12 milhões de Hitler e perdendo só para os 40 de Mao Tsé-Tung. Obviamente, todos esses números são altamente especulativos.
Neoestalinismo
Há evidências de que Stálin voltou a ser popular na Rússia. Em junho de 2017, The Washington Post informou que, segundo uma pesquisa nacional realizada na Rússia:
Um número maior de russos considera Joseph Stálin, mais do que qualquer outro líder, a “pessoa mais notável” da história mundial... Em segundo lugar, na mesma pesquisa, está o homem que fez mais do que qualquer outro para restaurar a reputação do notório ditador soviético: o presidente russo Vladimir Putin.
A [revista internacional] Foreign Policy também percebeu a tendência pró-Stálin; em 2016, relatou que:
Em 2015, o culto redivivo à personalidade do ditador soviético atingiu novos patamares… Nos últimos anos, o presidente Vladimir Putin tem encabeçado a reabilitação de um dos maiores monstros do século XX. Atormentado pela decadência econômica de seu país e temeroso da dissidência, ele recorreu ao fantasma de Stálin para ajudar a reunir o povo russo e prepará-lo para os sacrifícios que estão por vir.
Ante o histórico de Stálin como um dos maiores malfeitores de toda a história, muitos não entendem por que há um movimento para restaurar a sua imagem. Ainda existem russos que se lembram das maldades de Stálin, mas eles estão começando a encontrar resistência oficial, conforme relatado em The New York Post (novembro de 2018):
[A] cerimônia de “Devolução dos Nomes” é sobre o passado… [Lembra] o assassinato de mais de 1 milhão de russos pelo Estado em 1937–38. O grupo de direitos humanos Memorial tem conduzido o evento desde 2006, no memorial dos campos de trabalho forçado de Stálin: os gulags... Putin, um grande fã de Stálin, não gostou disso. Somente um clamor público impediu que seus minions forçassem a cerimônia a ser transferida para o outro lado da cidade — o “Muro do Luto” que Putin ergueu em 2015.
No centro da nova popularidade de Stálin está o nacionalismo russo. A URSS reunia muitas culturas do continente asiático e dominava uma porção considerável da Europa. Grande parte do sentimento pró-Stálin toma por base o papel da União Soviética na Segunda Guerra Mundial (chamada na Rússia de “A Grande Guerra Patriótica”). Desde então, histórias sobre as façanhas dos grandes soldados soviéticos são tão populares quanto [as dos veteranos] nos Estados Unidos. Após a Segunda Guerra, a URSS conseguiu controlar as nações da Europa oriental. A Rússia, entretanto, sempre foi o centro. Era em Moscou que se mexiam os pauzinhos do Império Soviético. Quando os soviéticos lançaram o [satélite] Sputnik, o mundo prendeu a respiração.
Nostalgia fora de lugar
Hoje, a Rússia é fraca. As outras “repúblicas” da URSS são, em sua maioria, nações independentes. Algumas dessas nações se inclinam mais para os inimigos do antigo Império Soviético. A economia da Rússia está em frangalhos, dependendo das exportações de petróleo para funcionar. O preço do petróleo é mantido baixo pelos concorrentes da Rússia — um sinal do poder dos EUA. Muitos russos anseiam por um renascimento da grandeza nacional, e Stálin é o líder do qual eles mais sentem nostalgia. A ocupação da Crimeia por Vladimir Putin em 2014 lembra a muitos russos o senso de propósito que tinha Stálin.
Esse sentimento de nostalgia é intensificado pelo fato de que há relativamente poucos na Rússia que se lembram das repressões de Stálin e do medo que as acompanhava. Os sobreviventes dos gulags agora são idosos e, em breve, todos terão desaparecido. Paul R. Gregory, da Hoover Institution, aponta uma tendência preocupante:
Há uma década, quase 70% concordavam que “Stálin era um tirano brutal culpado pelo extermínio de milhões de pessoas inocentes” — uma conclusão contestada somente por 1 em cada 5. Em 2018, 44% concordaram com a descrição de Stálin como um “tirano brutal”. Os demais discordam ou não têm opinião.
Paul Gregory também destaca que a posição de muitos russos é a de que Stálin foi “duro, mas justo”.
O renascimento da reputação de Stálin ameaça fazer com que essa terra esquecida retorne aos erros sobre os quais Nossa Senhora advertiu o mundo em 1917. O resgate da memória de Stálin, que acontece ao mesmo tempo que o socialismo mundial parece estar em ascensão, deve preocupar todos os que valorizam a nossa humanidade e o nosso livre-arbítrio divinamente instituídos.
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