Comecemos com um simples fato. Nas principais aparições em Fátima, nossa Mãe Santíssima apareceu no dia 13 de cada mês, menos em agosto, quando as crianças foram levadas à cadeia de Ourém por um administrador ateu, que estava determinado a impedir que elas fossem até a Cova da Iria.
Depois que as crianças foram soltas, Nossa Senhora lhes apareceu no dia 15 de agosto, festa da Assunção.
Houve algum significado no fato de Nossa Senhora ter aparecido no dia 13 dos outros cinco meses? Claro que sim. O Céu não faz coisas sem propósito. Por ora, podemos não conhecer todas as razões, mas há importantes conexões entre esse número e a história de Fátima, e elas podem, até o momento, ser consideradas mais um modo de enriquecer seu significado.
Primeiro, tenhamos em mente que certos números possuem grande significado e simbolismo para os judeus e para nós. É algo claramente bíblico. No Antigo Testamento, determinados números são associados a significados místicos e a certa sacralidade. Isso continuou no Novo Testamento e foi mantido pelos Padres da Igreja.
Consideremos os seguintes números: 3 (a Trindade, por exemplo); 7 (o sétimo dia da semana, quando Deus descansou); 12 (as doze tribos de Israel, os doze Apóstolos). Obviamente, isso não tem nada a ver com superstição.
Antes de voltarmos ao 12, lembremos mais uma conexão. Os Padres da Igreja consideravam Ester, do Antigo Testamento, uma prefiguração da Santíssima Virgem. Trata-se de uma importante relação. Você se lembra da história dessa rainha, contada no Livro de Ester?
Em resumo, Ester estava entre os judeus exilados na Pérsia. Seu tio, Mardoqueu, cuidava dela e ao mesmo tempo era um diligente servo do rei. Ela era reverenciada por todos: “Ela ganhava as boas graças de todos os que a viam” (Et 2, 15). Quando o rei Assuero precisou escolher uma rainha entre as possíveis candidatas, “preferiu-a a todas as outras mulheres, e ganhou ela as graças e o favor real mais que todas as demais jovens. Tanto que o rei colocou sobre sua cabeça o diadema real e a fez rainha no lugar de Vasti” (Et 2, 17). Ele não sabia que ela era judia.
Entra em cena o vilão, que tinha ciúmes de seu tio e da posição que ele ocupava, porque ele mesmo queria ser o braço direito do rei, com todo o poder que a posição oferecia. Ele conseguiu isso imediatamente, ao armar uma trapaça contra Mardoqueu. Então, para manter-se no poder, escreveu e baixou um decreto no dia 13 do primeiro mês, determinando que, dentro de alguns meses, todos os judeus no reino — homens, mulheres e crianças — deveriam ser exterminados à espada. A execução em massa seria realizada no 13.º dia do mês de Adar do calendário judaico.
Pediram a Ester que intercedesse junto ao rei. Ela o fez, mesmo que isso lhe pudesse ter custado a vida, pois ela apareceu diante dele sem pedir a permissão necessária para vê-lo — um aviso vindo dele mesmo autorizando-lhe a presença. Ela se dirigiu ao rei para fazer o pedido.
Ester revelou ao rei que o vilão havia ordenado em nome do rei a morte dos judeus, e usou o selo dele para determinar que aquilo fosse feito no dia 13 de Adar. Além disso, ela revelou que também era judia. O rei Assuero, que a amava afetuosamente, ficou indignado com tal vileza, condenou o vilão à morte e ordenou que os judeus fossem salvos.
“No duodécimo mês, que é o de Adar, no dia treze do mês, data em que entrava em vigor a ordem e o edito do rei, no mesmo dia em que os inimigos dos judeus contavam fazer-lhes mal, aconteceu tudo ao contrário e os judeus dominaram seus inimigos”, diz-nos o livro (Et 9, 1).
Ester salvou seu povo. Os judeus sobreviveram.
Em Fátima, Nossa Senhora apareceu para salvar seu povo mostrando-lhe o caminho correto a ser seguido.
Como um “extra”, a Enciclopédia Católica lembra que o nome Ester vem do hebraico e significa “estrela”, “felicidade”. Isso também reforça a conexão entre Ester e a aparição e mensagem de Nossa Senhora de Fátima.
“Ela sempre tinha uma estrela em seu manto”, disse a Ir. Lúcia ao padre dominicano Thomas McGlynn, quando ele perguntou qual era a aparência de Nossa Senhora. A estrela era amarela. Mais uma vez, o Céu estabelecia uma conexão para nos dizer que Maria estava indo a Fátima também para salvar do mal seu povo e a Igreja.
Ester era uma rainha. Nossa Senhora é uma Rainha infinitamente superior — que foi coroada, contemplamos no quinto mistério do Rosário, “como Rainha do Céu e da terra”.
Por falar no Rosário, todas as vezes que apareceu em Fátima, Nossa Senhora nos pediu que o rezássemos (do dia 12 de maio ao dia 13 de outubro). Na aparição do dia 13 de outubro, ela se apresentou como Nossa Senhora do Rosário, e outubro é o mês dedicado ao Santo Rosário.
Isso nos leva a outro 13. Foi no séc. XIII que Nossa Senhora deu o Rosário a São Domingos. E foi também nesse século que ela deu a São Simão Stock o escapulário marrom. No dia 13 de outubro, Nossa Senhora apareceu com três títulos — um deles foi o de Nossa Senhora do Carmo, dando-nos uma lição silenciosa sobre o escapulário. Alguns anos depois, quando frades carmelitas lhe perguntaram sobre o escapulário, Lúcia lhes disse que “o escapulário e o Rosário são inseparáveis. O escapulário é um sinal de consagração a Nossa Senhora”.
Naturalmente, Nossa Senhora apareceu em Fátima para nos aproximar de Jesus. Um dos caminhos foi a recepção da Sagrada Eucaristia, que é a parte mais importante da devoção dos cinco primeiros sábados. Isso nos leva a outra conexão com o número 13. 13 de maio, data da primeira aparição, era o dia original da festa de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. Com certeza essa data não foi escolhida a esmo; ela apontava propositalmente para a Sagrada Eucaristia.
Durante a primeira aparição, no dia 13 de maio, as crianças perceberam que a luz que saía das mãos abertas de Maria era a luz de Deus; então, ajoelharam-se e começaram a rezar: “Ó Santíssima Trindade, eu vos adoro! Meu Deus, meu Deus, amo-vos no Santíssimo Sacramento”.
É claro que essa oração tem uma conexão com o Espírito Santo. Lembremos que Nossa Senhora e os Apóstolos somavam 13 pessoas no Cenáculo, onde o Espírito Santo desceu em Pentecostes.
Além dos doze Apóstolos juntos com Maria, podemos retroceder no tempo e mencionar as doze tribos de Israel e assim o 13 aparecerá novamente. Certo rabino especialista no tema mostrou que as doze tribos, dos doze filhos de Jacó, as quais se tornaram Israel, “estão unidas a seu pai Israel [Jacó]. Israel é o 13.º. O sentido do número treze é a união de muitos em um só”.
O rabino também observou que, na língua hebraica, toda letra possui um valor numérico, e a palavra hebraica ahava (que significa amor, como no Novo Testamento, na Bíblia) está ligada a Deus e ao valor numérico de treze.
Em Fátima, Maria veio com amor para nos unir todos no amor de Deus, desde que sigamos suas instruções, que em última instância vieram de Deus — o qual, como nos diz São João, é Amor (cf. 1Jo 4, 8) —, para a única família de Deus que se dirige ao Céu.
Portanto, o número 13 está, de fato, relacionado com Fátima de diversas formas, direta ou indiretamente. Trata-se de mais um dos muitos e diferentes modos que nos ampliam a mensagem e o significado de Fátima.
Este artigo foi extraído do site do Padre Paulo Ricardo.
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