Ele é devoto de São Jeremias, nome que adotou ao ser batizado há 12 anos, enquanto ainda estava nas Forças Armadas em seu país natal, a Coreia do Sul. Foi durante o serviço militar que se converteu. Os “nomes de batismo”, que são ocidentais, acabam por identificar um católico num país onde a maior parte da população é de ateus. 

Junho Jeremiah Chu tem 35 anos de idade. Sempre ouviu e estudou música, mas optou por deixar esse talento como um hobby para poder estudar na Universidade Nacional de Seul. Como a maioria dos jovens sul-coreanos, sua principal ambição era conquistar uma carreira bem-sucedida que o fizesse ter remuneração alta, para obter muitos bens materiais. Porém, Junho ainda se sentia vazio e insatisfeito. Foi então buscar um propósito de vida na carreira militar. Mais uma vez, se sentiu frustrado. Entretanto, no local onde serviu à Força Aérea, Deus preparou uma surpresa que o levaria a mudar de vida. Foi lá que o jovem conviveu com cristãos e descobriu que seguir Jesus e as Escrituras o levariam a uma jornada missionária de evangelização.

Depois da carreira militar, engajou-se como catequista e leigo atuante na Igreja. 

A música de volta em seu caminho

Um importante concurso de canções de louvor é promovido por uma renomada estação católica na Coreia. Em 2017, mesmo sem experiência em escrever letras e compor melodias, Junho Chu se inscreveu e foi vencedor. Ele atribuiu ao Espírito Santo a inspiração para compor a música baseada na Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco. No concurso, conheceu outros músicos e, desde então, formaram uma conhecida banda católica coreana chamada The Seventeen, da qual é o vocalista. Tornou-se também compositor e letrista.

Durante uma peregrinação à Itália em 2023, ouviu a apresentação de um coral que cantava em português. Encantado, filmou e publicou no seu perfil do Instagram. Recebeu muitos comentários de brasileiros e ficou interessado em conhecer melhor o Brasil. Decidiu, então, memorizar a letra de uma canção em português para compartilhar com seus seguidores. Pediu ajuda nas redes sociais e encontrou Polly, uma cantora de Salvador (BA), sua grande amiga até hoje. Ela o ajudou a praticar a pronúncia e Junho Chu viralizou entre os cristãos: um coreano que não sabia português, mas que cantava no idioma estrangeiro. 

O cantor desembarcou no Brasil em 2024, agora em peregrinação para mostrar aos leigos que é possível levar a Palavra por meio da música. 

O cantor e missionário leigo visitou a Associação Evangelizar É Preciso. Foto: arquivo pessoal.

Visita à Evangelizar É Preciso

Junho Chu visitou a sede da Associação Evangelizar É Preciso esta semana, em Curitiba (PR), onde participou de programas da TV e Rádio Evangelizar. O portal IDe+ também conversou com ele. Confira a seguir.

IDe+: O que você pode dizer sobre a missão de ser um leigo que leva adiante o catolicismo na Coreia?

Junho Chu: Bom, é preciso dizer que, na Coreia, a religião católica não é maioria, temos cerca de 10% da população de católicos, mas, surpreendentemente, temos muitos sacerdotes. Desse modo, enviamos sacerdotes missionários para outros países. É um mistério, mas enviamos sacerdotes para a Europa, América Latina, África, diversos países asiáticos… Quanto à sua pergunta “como é a vida de um leigo”, penso que é uma bênção de Deus. Porque, na Coreia, há muitos sacerdotes, mas não há muitos missionários leigos jovens. Portanto, eu realmente acredito que precisamos de missionários leigos, mais que nunca, pois hoje em dia, na sociedade moderna, tudo muda muito rapidamente, como nas redes sociais, tecnologia, Inteligência Artificial, por exemplo. Penso que os jovens, especialmente os leigos, estão mais conectados às mudanças do mundo e podem criar mais conteúdos evangelizadores que divulguem o amor de Deus, pelos mais variados meios. Precisamos de mais pessoas leigas para evangelizar este mundo, é o que acho. De vez em quando chego a me perguntar “e se eu tivesse me tornado um padre ou frade?” É algo que tem dois lados, o lado fácil e o difícil. E, avaliando bem, percebo que não é para mim agora. E a minha vocação é viver como missionário leigo e cantor católico, como um artista. A vida é cheia de desafios e posso sentir que o meu chamado é esse. Mas o chamado do Pai nunca é fácil. Não é como ficar descansando em uma cama e só observar confortavelmente. Não é, de modo algum, confortável. É desafiador, mas muito bonito, maravilhoso e gratificante. Então, posso afirmar que tenho vivido uma vida cheia de desafios, mas, ao mesmo tempo, muito feliz. Posso afirmar, com certeza, que sou o o homem mais feliz do mundo. 

IDe+: Que mensagem você deixa para quem acompanha o IDe+?

Junho Chu: Quero dizer que os católicos brasileiros são especiais. São um povo escolhido pelo Senhor. Definitivamente, um povo de Deus. Como um católico coreano, vejo que morar no Brasil pode ser uma grande bênção, porque é um dos maiores países católicos do mundo e a todos os lugares que vou, consigo ver Jesus, vejo paróquias, encontro lindos católicos, sacerdotes, freiras, missionários, tudo isso é uma grande bênção. Posso afirmar que ser um católico brasileiro é um privilégio e peço para que tenham orgulho disso. Ser brasileiro é muito bonito e ser católico é maravilhoso. Os católicos brasileiros são muito abençoados. Consigo ver Jesus em seus corações e em seus olhos, que brilham, resplandecem. Estarei sempre rezando por eles e peço que também rezem por mim. Estamos unidos porque compartilhamos da mesma crença. Somos um mesmo corpo, espírito e alma. Por isso “tamo junto” até o céu. 

Junho Chu grava com Manzottinho para as redes sociais

Jornada Mundial da Juventude na Coreia

A próxima Jornada Mundial da Juventude será realizada em 2027 e a Coreia do Sul irá sediar o encontro. Junho Chu avisou que fará parte do evento e convida os participantes a conhecer a espiritualidade e o dinamismo dos jovens da Igreja coreana.

O cantor católico já tem data marcada para voltar ao Brasil ainda na metade do ano, em junho. Ele obteve um CPF na Embaixada do Brasil na Coreia em outubro do ano passado para garantir que seu vínculo com os brasileiros vá além de uma breve visita. Ao retornar ao seu país natal, tem planos de estudar português e continuar interagindo com seus novos amigos brazucas. 

Esta entrevista apareceu primeiro no IDe+.

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